Entrevista: Teresa Vieira
No panorama social atual, observa-se uma desintegração exponencial de uma das bases fulcrais para o desenvolvimento dos indivíduos: a perda, a destruição de comunidades. O conceito de comunidade é mutável, tal como a própria aplicação do conceito — podemos conceber, por exemplo, a partilha de um espaço e de um momento como sendo elementos para a criação de uma comunidade temporária. Mas aqui falamos da noção primordial de comunidade estabelecida, de comunidade de partilha, de comunidade de (e para a) vida. Algo que se perdeu pelo caminho da evolução, algo que ficou esquecido (ou adormecido) com as (cada vez mais rápidas) mutações do panorama habitacional urbano, tal como da própria experiência social (cada vez mais individualizada) neste mundo.
A Nossa Terra, o Nosso Altar, o novo filme de André Guiomar, toca-nos pela visão de uma comunidade que, pela força do estigma e da gentrificação, é desmantelada: passo a passo, casa a casa, família a família, prédio a prédio, bairro a bairro. Uma dor e um luto partilhado por um tecido que, após meses e anos em suspensão, se torna num conjunto de fios perdidos e separados. Uma voz do Bairro do Aleixo, ecoada para o mundo (e para o grande ecrã) por André Guiomar, num filme que se estreia em outubro, na versão física do Sheffield Doc/Fest.