Os detalhes, a atmosfera e o sentido moral das personagens sempre foram trunfos da escrita de Bruce Springsteen, e muitos dizem ser ele o mais “cinematográfico” dos escritores de canções da música popular dos últimos quarenta anos.
Contador de histórias por natureza, foi em Outubro de 1980 que editou The River, o seu quinto álbum. Uma viagem pelo amor, a morte ou, neste caso concreto, pela vida e a perda.
São histórias em forma de canção pelos caminhos da existência, que nos conduzem aos “destinos” geográficos concretos das nossas necessidades e desejos… muitos deles sem saída.
The River proporciona isso mesmo, uma jornada sonora através da noção de existência e o tempo limitado que temos para absorvê-la. A vida sentida com o paradoxo que carrega e com que temos de viver… com o amor e com o decesso, num tempo sempre escasso.
Este foi, igualmente, o primeiro disco em que Springsteen lidou com a verdadeira essência dos relacionamentos humanos. O casamento, os filhos, os compromissos e os falhanços que impregnam o universo do mundano, que fazem “a vida ser vida”.
Este trabalho era, ainda, o reflexo de um desejo interior do compositor destas canções de plasmar na sua visão – e no conceito de arte – a sua própria existência, como observador e narrador de um mundo ao qual pertence, mas com a dimensão da experiência sentida, de facto, na primeira pessoa.
Em The River, Bruce Springsteen mergulha no universo e complexidade do ser humano. Um disco feito com personagens de corpo e alma que habitam um dos seus mais importantes e cruciais testemunhos sonoros.
Histórias de pessoas como nós… e os laços que nos unem… ou nos prendem.
Pedro Costa
Especial “Bruce Springsteen – Os laços que nos unem” Parte 1
Especial “Bruce Springsteen – Os laços que nos unem” Parte 2