São muitas as inquietações e questões que ficam nas mentes curiosas da Gen-Z ao olhar para memes que vêem chegar-lhes através de reels do Instagram ou do Tik Tok. Que memes eram aqueles com Jerry Seinfeld em cima do palco? O que estava a fazer um cabeçilha da máfia na terapia? Quem era Lorelai Gilmore? Como é que um chefe de uma empresa de papel consegue ser tão problemático? Quem era Carrie Bradshaw e aquele bando de mulheres nova iorquinas? Que cor de cabelo linda é a de Samantha Jones? E que livros são aqueles que Rory Gilmore lê? Mas quem são, afinal, Samantha Jones e Rory Gilmore?!
Como a moda é cíclica e a internet é o sítio perfeito para dar vida ao que aparentemente já tinha morrido, séries de culto como Seinfeld, Sex and the City, The Sopranos, Gilmore Girls e The Office regressam aos (pequenos) ecrãs e voltam a ser assunto de conversa em 2024. Apanhados ou não na teia dos revivals, eis as cinco séries que têm deixado a Gen-Z eufórica.
SEINFELD (1989)
Uma sitcom que segue a vida de um grupo de quatro amigos em Manhattan, Nova Iorque, no final dos anos 80 e início dos 90. O protagonista é o comediante Jerry Seinfeld, a culta e livre Elaine Benes, George Costanza, o neurótico disfuncional e (Cosmo) Kramer, o disfuncional neurótico (há diferenças!). Conhecida no bate boca como a show about nothing, – uma série sobre nada – Seinfeld lida com o mundano e com o trivial, da maneira mais absurda – e ao mesmo tempo humana – possível. Todos eles se metem em pequenos e grandes sarilhos, procurando a cada episódio soluções maquiavelicamente criativas. Mesquinhos em relação aos outros, mas completamente auto-depreciativos, este é o grupo que vale a pena seguir se não quiserem aprender rigorosamente nada de jeito. Divertido nove temporadas fora.*
*Para quem já a viu, Curb Your Enthusiast é o próximo passo a dar para (tentar) compreender o caos que é a cabeça de Larry David, co-criador de Seinfeld.
SEX AND THE CITY (1998)
O código postal começa com os mesmos digitos. Continuamos em Manhattan, Nova Iorque. Mas agora não seguimos um grupo de (maioritariamente) homens, mas um quarteto só de mulheres (a televisão também funciona como um indicador do progresso!) a navegar pela vida. A protagonista desta rom-com é a jornalista Carrie Bradshaw cuja coluna no jornal se chama, precisamente, Sex and the City. Tudo o que lhe acontece, acaba invariavelmente no seu computador portátil, com direito a um grande ponto de interrogação.
À ficcional Carrie Bradshaw de 30 e poucos anos, juntam-se Samantha Jones, dona máxima da sua sexualidade e livre de qualquer preconceito machista, Miranda Hobbes e a mais-conservadora Charlotte York, todas elas amigas de longa data.
Foi Virgina Woolf quem montou a equação para uma mulher enquanto escritora. Para escrever, uma mulher precisa de dinheiro e de um quarto só seu. Quem leu “Um Quarto Só Seu” (1929) percebe também a importância de referências femininas na vida de uma mulher. Importantíssimo em 1998 e ainda relevante em 2024, Sex and The City segue quatro mulheres e amigas que aproveitam ao máximo os direitos das mulheres e o livre arbírtrio. Fazem o que bem lhes apetece, com o seu dinheiro, tempo… e vida. 26 anos depois, continua uma referência, sobretudo no que toca à amizade e sororidade.
A série é baseada na coluna do mesmo nome escrita entre 1994 e 1996 pela escritora Candace Bushnell. Depois da série foram lançados ainda dois filmes e, no fim de 2021, Sex and the City teve – literalmente! – um revival com a série And Just Like That…, com parte do elenco original.
THE SOPRANOS (1999)
A história de Tony Soprano e companhia, escrita e produzida pelo americano David Chase. Um drama que reflete sobre o trauma geracional, os mommy issues e o stress que a vida como cabeçilha da máfia pode causar num homem. O terrível e temível Tony Soprano é obrigado a ver uma psicóloga, uma vez que está deprimido e sofre de ansiedade. Uma série à frente do seu tempo, que nos faz refletir sobre instituições tão elementares como a família, a própria noção de casamento e as (novas, para a altura) questões relacionadas com a saúde mental. Trágica e icónica, com um final completamente divisivo. Não é à toa que é considerada uma das melhores séries de sempre. Tem selo de aprovação da Gen-Z.
GILMORE GIRLS (2000)
É na cidade ficcional de Stars Hollow que podem encontrar as incríveis Gilmore Girls. Uma vila pacata (q.b!) onde todos se conhecem e estimam Lorelai Gilmore, mãe solteira de 30 e poucos anos, dona de uma estalagem, e a brilhante filha, Rory Gilmore, que sonha entrar na universidade de Harvard desde muito pequena.Nesta série escrita pela perspicaz e quirky Amy Sherman-Palladino, acompanhamos a vida, os dramas amorosos e familiares de três gerações de Gilmore’s: a relação manipuladora e amarga entre Emily Gilmore e filha e a relação de amizade entre Lorelai Gilmore e a filha de 16 anos, Rory Gilmore. Tudo isto com a medida perfeita de romance, humor e sarcasmo. Os diálogos velozes são absolutamente engenhosos. Cada interacção está carregada de referências musicais alternativas — obscuras até para a malta da Antena 3 — e outras tantas da cultura pop. Não há ponto sem nó com elas. Gilmore Girls é uma série para rir e chorar — às vezes os dois ao mesmo tempo! — com uma boa chávena de café na mão. Não admira que a Gen-Z seja obcecada com elas. Uma verdadeira série de culto.
Em 2014 a série voltou às plataformas digitais e, em 2015, Palladino escreveu o especial Gilmore Girls: a Year In The Life divido em quatro episódios de 90 minutos, um episódio para cada estação do ano, criando um enorme buzz e entusiasmo geral em velhos e novos fãs.
THE OFFICE (US) (2005)
Drama de (e no) escritório. Um mockumentary. Um camera-man segue Michael Scott, o chefe inapto de uma empresa de papel e todos os funcionários (peculiares) da Dunder Mifflin. The Office é uma comédia levada à frente pelo norte-americano Greg Daniels que se passa, grande parte do tempo, no local de trabalho e gira em torno da necessidade de Michael Scott em ser adorado, mesmo que isso implique não trabalhar nem dar o melhor exemplo. Um chefe que acredita realmente que o melhor das empresas são as pessoas. E o melhor do The Office são mesmo as personagens.
Criam-se laços e também inimizades, preconceitos são expostos, romances florescem em cada anexo e tensões vão-se acumulando, saltando de temporada em temporada. Tonta, querida e cringe (mas nada constragedora quando comparada com a série original The Office, escrita e protagonizada pelo inglês Ricky Gervais).
Uma série digna de um Dundie. Para repetir uma e outra vez: porque há séries que ficam connosco para sempre. The Office é, definitivamente, uma delas.
P.S: À luz de 2024 tudo é examinado prontamente com um sentido crítico urgente, mas é importante (re)lembrar que os tempos (e as mentalidades) eram diferentes.
Texto e recomendações da Gen-Z da Antena 3 — Catarina Fernandes