“Muitas vezes fazem-se músicas com loops, mas não se fazem canções”
Katak é o nome do primeiro projeto a solo de Vítor Peixeiro, músico e artista visual que fez parte de projetos musicais como Snail, Fábrica de Sonhos, Lf Cool ou Canto Nono. Agora é tempo de experimentar o trabalho por si só, usando apenas a voz e uma loop station, máquina que descobriu recentemente e que mudou a sua forma de olhar para a música. Já é conhecido um primeiro avanço para um álbum que deverá chegar “até ao final do ano”, chama-se “It’s All In The Rythm” e sintetiza bem a forma como Katak olha a sua arte: com ritmo.
Esta é a tua estreia a solo? Como é que surge este projeto?
Sim, é a minha estreia a solo e tudo começou no dia em que adquiri uma loop station e com as consequentes experiências que fui fazendo com vários instrumentos. O que me saiu mais orgânico e natural foi a voz. Então comecei a experimentar beatbox e a conjugar vozes, inspirado pelo trabalho de vários artistas, como é o caso de Bobby McFerrin ou do Ricoloop. Também fiz parte de um projeto que era o Canto Nono, um projeto a capella, que também me abriu a mente nesse sentido de experimentar coisas com vozes. A loop station foi uma ferramenta que me ajudou na construção de camadas. Foi assim que surgiu tudo.
O primeiro tema que apresentas chama-se “It’s All In The Rythm”, que explora esse universo da voz a ser trabalhada numa loop station.
Exato. A base da criação é sempre a loop station, mas depois o processo de gravação já é em estúdio com overdubs. No fundo é recriar o que é feito em loop station, mas num estúdio.
“”It’s all in the rythm” nasceu de forma muito espontânea, surgiu com o ritmo, com o tempo… na vida o tempo não pára: nós somos ritmo, tudo o que nos rodeia tem o seu tempo”
A tua biografia diz que és multi-instrumentista. O que é curioso é que neste projeto acabaste por não usar instrumentos.
Foi por causa dessa tal espontaneidade que me surgiu da voz. Foi o que me levou e continua a levar num caminho de ausência de instrumentos neste projeto.
“It’s all in the rythm” é um título bastante esclarecedor: apostas as fichas todas nos ritmos para fazer as tuas músicas?
Exatamente. Este foi dos primeiros temas que me surgiram. Quando comecei a experimentar fazer músicas até fiquei algo surpreendido com aquilo que estava a sair dali. Com as possibilidades ilimitadas na criação de loops… “It’s all in the rythm” nasceu de forma muito espontânea, surgiu com o ritmo, com o tempo… na vida o tempo não pára: nós somos ritmo, tudo o que nos rodeia tem o seu tempo.
Este é o teu primeiro tema enquanto Katak. Já há mais temas na calha? O que é que virá daí?
Este é o avanço para o disco que irá sair até ao final do ano. E já tenho mais dois singles preparados!
“O disco está quase finalizado. Vai passar por temas mais “radiofónicos”, ideias de “cantautor”, mas também outros mais instrumentais de viagem e world music, se lhe quiserem chamar”
Vai continuar a ser só com voz ou teremos mais instrumentos a entrar na tua loop station?
Neste disco vai ser apenas voz. O disco vai, inclusivamente, chamar-se A Capella.
Já tens as ideias bem concretas para o que vai ser o disco?
Está quase finalizado. Vai passar por temas mais “radiofónicos”, ideias de “cantautor”, mas também outros mais instrumentais de viagem e world music, se lhe quiserem chamar.
E o que é que significa “Katak”?
Eu tive um projeto, há uns anos, criado pelo pai do baterista dessa banda. Mas foi algo que acabou por nunca ir para a frente. Foi ele que deu o nome ao projeto, era ele o mentor, mas que acabou por falecer — o Augusto seria o agente. Só que mais tarde, e não sei como, uns amigos começaram a chamar-me “Katak” — e não sei mesmo como é que eles foram buscar aquilo, porque não tinham relação nenhuma com esse projeto. Fiquei baralhado, mas pensei que talvez o nome fizesse sentido: perseguiu-me duas vezes, então por que não ir para a terceira?
Porquê agora uma experiência a solo depois de outros projetos com banda?
Por causa da tal experiência da loop station que me permitiu criar música diferente. Desafiei-me, pus-me a jeito. Muitas vezes faz-se músicas com loops, mas não se fazem canções. Quis fazer músicas com voz, apenas, e que não fossem apenas viagens.
O que é que tens descoberto de ti, enquanto músico, com esta ligação à loop station?
Esta permanente experiência ajudou e forçou-me a encontrar novas soluções, quer com a voz, quer com instrumentos. O kazoo, por exemplo, que vem da minha grande paixão pelos instrumentos de sopro, e que permite que a voz seja “temperada” de forma a parecer então um instrumento de sopro. Descobri as possibilidades e a ausência de limites naquilo que a voz pode fazer quando é organizada. É o caminho que ainda estou a percorrer… talvez mais tarde comece a introduzir instrumentos misturados com a voz.
Sei que tens uma forte ligação à dramaturgia, ao teatro, ao vídeo. São universos que se cruzam com as experiência de Katak? Em todos eles, também está tudo no ritmo?
Sim! Eu sempre fui um grande fanático de cinema e de bandas sonoras dos filmes que via. Fiz teatro musical, fotografia, estudei Audiovisuais, e o curso ajudou-me a fazer a ligação entre esses mundos todos, que não vivem uns sem os outros. A música pode viver sem o cinema, o cinema sem a música, mas quando se combinam dão algo muito mais forte do que se possa imaginar.
“Muitas vezes faz-se músicas com loops, mas não se fazem canções. Quis fazer músicas com voz, apenas, e que não fossem apenas viagens”
Tens explorado esse lado da imagem em Katak?
Sim. Os artistas sempre viveram disso, desde os tempos do Elvis. A partir do momento em que houve uma descoberta do potencial das artes visuais juntas à música — talvez desde o Michael Jackson — passou a haver a envolvência da música do artista com tudo o que o envolve. Podem criar-se mundos e histórias diferentes se houver ligação entre as várias disciplinas.
Como tem sido mostrar Katak ao vivo?
Já fiz algumas experiências. Mas é complicado: alguns dos temas são mais para estúdio, por isso não é tudo exclusivamente com voz. Vou utilizar guitarra e pedais de efeitos; alguns dos temas serão tocados nessa mistura de instrumentos com a voz. É um desafio!
Entrevista: Bruno Martins