Ao longo do ano, a Antena 3 vai revisitar o punk, canção por canção. Revisitar não só o punk, que eclodiu em Inglaterra há quatro décadas, mas também descobrir, lá atrás no tempo, aqueles que o prenunciaram quando punk não era ainda género musical e, um pouco depois desse tempo, aqueles que dele frutificaram. Revisitar desviando também o olhar para outras áreas do globo. Para sítios como Portugal? Que pergunta. Claro que sim. “Há que violentar o sistema”, não é?”
“O Aqui d’el Rock vai violentar o sistema. Pelo menos, é o título do single que agora saiu entre nós. O Aqui d’el Rock é o primeiro conjunto punk a gravar disco. Será que se sucedem outros?”. Assim se apresentava na RTP, em 1978, uma banda, uma canção e o vídeo que marcou o início. As primeiras vezes são importantes, representam o marco a partir do qual se conta a história. Em Portugal, o arranque do punk tem nome bem definido. Aqui d’el Rock e “Há que violentar o sistema”, título que é, obviamente, todo um programa.
Lisboetas de classe média desempregada e estudantes sem grandes esperanças no futuro, os Aqui d’El Rock, ou seja, Zé Serra, Fernando Gonçalves, Alfredo Pereira e Óscar Martins, não se auto intitulavam punk, mas lemos-lhes as entrevistas à época e percebemos que outra coisa não podiam ser. Contavam, por exemplo, daquela vez que ficaram sem ensaiar não sei quantos meses depois de os padres que ocupavam edifício próximo à sala de ensaios terem reclamado da barulheira e gritaria. Ouvimo-los falar do desejo de trazer a linguagem da rua para as canções e de fazer delas um regresso ao rock como combustível para mudança, o rock como acção directa.
Tal como os Sex Pistols, não apresentavam soluções para o que quer que fosse. As guitarras distorcidas, o ritmo acelerado e a voz mais gritada que cantada faziam eco do “no future” do outro lado do Canal da Mancha. Mas era o nosso “no future”: os Aqui
d’el Rock não sabiam como acabar com o sistema e que outro sistema devia nascer. Sabiam que havia que praticar malvadezas sobre essa entidade indefinida.
Dizia o Serra à extinta revista Rock em Portugal: “Bom, a gente pensa do punk aquilo que nos dizem, porque nunca fomos a Inglaterra ou à América – não temos dinheiro para isso – ouvir grupos punk. Disseram-nos que são grupos que querem dar ao rock aquilo que tinha no início, a força, a espontaneidade, e que agora foi desvirtuado pelos intelectuais. Nós, para já, alinhamos nessa ideia”. Exclamava o Alfredo: “O que a gente está a fazer é uma música que sempre gostámos. Se isso é punk pois nós somos”. E eram mesmo. Em Portugal, os primeiros.
Ficha Técnica:
Textos – Mário Lopes
Voz – Daniel Belo
Sonoplastia – Luís Franjoso