Ao longo do ano, a Antena 3 vai revisitar o punk, canção por canção. Revisitar não só o punk, que eclodiu em Inglaterra há quatro décadas, mas também descobrir, lá atrás no tempo, aqueles que o prenunciaram quando punk não era ainda género musical e, um pouco depois desse tempo, aqueles que dele frutificaram.
Sex Pistols — “God Save the Queen”
A primeira proclamação já fora, digamos, eloquente o suficiente. “Eu sou um anti-Cristo / Eu sou um anarquista”, apresentou-se Johnny Rotten com todos os perdigotos, enraivecido mas exibindo um sorriso sardónico que tornava aquela voz, aquelas palavras e aquela música ainda mais assustadoras para a velha guarda e conservadores no geral. “Anarchy in the UK” foi o tiro de partida. Definiu um som, onde as formas rock’n’roll dos anos 1950 eram passadas pelo filtro Stooges obrigatório, aceleradas e distorcidas, e cantadas com despudorado, quase caricatural, sotaque britânico. O insatisfação transformara-se em ira e o sarcasmo abundava. Nada mais seria o mesmo.
“God Save the Queen” foi a segunda granada sónica disparada por Johnny Rotten, Steve Jones, Glen Matlock e Paul Cook – Sid Vicious estava prestes a chegar e Malcolm McLaren, o agitador mor, orquestrava caos público nos bastidores. Foi editado a 27 de maio de 1977, no mês em que a Inglaterra celebrava o Jubileu de Isabel II, coroada 25 anos antes, e era mais que o ataque directo à monarquia que escandalizou parte do país – a que não correu a comprar o disco, bem entendido.
“God save the Queen / the fascist regime”, gritou desta vez Johnny Rotten. Mas o mais importante, a razão pela qual o segundo single dos Sex Pistols sobreviveu incólume à passagem do tempo está no que é dito mais à frente. Está naquele “no future” que se repete no final, uma e outra vez. Esse não tem prazo de validade. 40 anos depois o seu eco ainda se ouve com clareza. É um “basta!” muito poderoso.
Ficha Técnica:
Texto – Mário Lopes
Voz – Daniel Belo
Sonoplastia – Luís Franjoso