Ao longo do ano, a Antena 3 vai revisitar o punk, canção por canção. Revisitar não só o punk, que eclodiu em Inglaterra há quatro décadas, mas também descobrir, lá atrás no tempo, aqueles que o prenunciaram quando punk não era ainda género musical e, um pouco depois desse tempo, aqueles que dele frutificaram.
The Stranglers – Get a Grip on Yourself
Punk? Então expliquem-nos lá que raio é aquele baixo todo ágil e virtuoso e que são aqueles teclados que não estariam deslocados numa daquelas bandas prog-rock que o punk desprezava? Punk, dizem eles. Então mas o fundador desta banda, Jet Black como alcunha, não passava já muito dos trinta quando a banda foi formada e não era ele um homem de negócios (heresia!) que, vejam só a lata, detinha carrinhas de gelado? (hippie do caraças!). Punk dizem eles. Punks, sim senhor.
Os Stranglers nunca se preocuparam com géneros musicais. O que lhes interessava era explorar o que se podia fazer de uma canção, como comprovaram no seu maior êxito, esse imaculado “Golden Brown” com melodia de cravo apontando ao sul mediterrânico. Eram punks, sim senhor. Porque os Stranglers não queriam saber. Porque cantavam “No more heroes” para que tudo implodisse e renascesse de novo. Porque, com apurado sentido da história e, ao mesmo tempo, desejo de futuro, conseguiam ser garageiros, psicadélicos, new-wave, neuróticos do pós-punk e gente muito zangada, como o punk era zangado.
Cuidado com os clichés, senhoras e senhores, muito cuidado com os clichés. Os Stranglers eram punks sofisticados e não há na afirmação nada de paradoxal. Eram exigentes e ecléticos musicalmente, sem que isso significasse que fossem obscurantistas – na verdade foram das bandas de maior sucesso comercial da época. Foram exploradores dos subterrâneos a assomar surpreendentemente à superfície. “Rattus Norvegicus”, o título do primeiro álbum, editado em 1977, não engana. Os versos de “Get a grip on yourself” também não: “Begged and borrowed sometimes, I admit I even stole / The worse crime that I ever did was playing rock’n’roll”. O júri é unânime. Crime sem castigo.
Ficha Técnica:
Texto – Mário Lopes
Voz – Daniel Belo
Sonoplastia – Luís Franjoso