No meio de tanta controvérsia, há algo com que podemos todos concordar: o outono tem mesmo uma magia especial. Ruas cobertas e folhas, a luz dourada dos fins de tarde e os primeiros dias frios que cortam a azáfama do verão e transformam uma tarde no sofá no melhor plano possível… Haverá  companhia melhor que a de um filme nessas ocasiões?

Foi assim que nos surgiram algumas questões: quais os melhores filmes para se ver nesta altura? E o que é que torna um filme “outonal”?  Não são perguntas fáceis, tampouco fechadas, mas temos alguns palpites para chegar a uma espécie de resposta. O cinema que apetece no outono não se define apenas pelas paisagens ou paleta cromática. A estética ajuda, no entanto, a compor a experiência: folhas caídas que forram parques de laranja e castanho, interiores acolhedores… E histórias de transição, melancolia, novos inícios, regresso às aulas e os primeiros passos para o Halloween. A banda sonora também é essencial para completar o espírito. Os géneros de eleição? Jazz, um pouco de folk, ou melodias clássicas são escolhas sempre certeiras para esta estação.

Vamos ao que interessa? Eis os filmes escolhidos pela Kenia Nunes, de entre uma lista interminável.

Para quem gosta de mistério, nada melhor do que tardes de Outono passadas a seguir pistas e a tentar adivinhar desfechos. O intenso Gone Girl, de David Fincher, mergulha-nos numa investigação em torno do desaparecimento de Amy (Rosamund Pike) e mantém-nos em tensão até ao último momento, enquanto acompanhamos o seu marido algo desagradável, Nick (Ben Affleck).

Se a ideia for entrar em mundos mágicos e sombrios, Coraline, de Henry Selick, é uma escolha acertada. Esta animação em stop motion, aparentemente direcionada para crianças, revela-se sombria e inquietante, ideal para a época de Halloween. No mesmo registo, os filmes de Tim Burton são presença obrigatória, especialmente títulos como Corpse Bride, Frankenweenie ou Beetlejuice.

When Harry Met Sally, de Rob Reiner, continua a ser uma referência obrigatória: é impossível não nos deixarmos encantar por Nova Iorque vestida de laranja e dourado, com a melodia suave da estação a acompanhar. É um filme para todas as estações, bem sabemos, mas com grande fatia da narrativa a passar-se no outono, obviamente seria escolha certa para esta lista. Também poderiam estar aqui qualquer outro filme escrito pela incomparável Norah Ephron, como You’ve Got Mail, Sleepless in Seattle ou Julie & Julia.

Do lado mais minimalista do romance, trazemos Folhas Caídas, filme que mostra como duas personagens desencontradas podem encontrar na simplicidade e no acaso uma forma inesperada de amor. O título seria indício suficiente para estar nesta lista, mas o filme, apesar de aplicar as técnicas pouco expressivas típicas do realizador, é talvez o seu filme mais acolhedor, capaz de fazer renascer a crença pela boa vontade do destino.

Não poderia faltar um made in Portugal. Restos do Vento, de Tiago Guedes, dialoga diretamente com o espírito da estação: a partir de uma tradição pagã, o filme mergulha em memórias, traumas e silêncios de uma comunidade, com uma atmosfera sombria e intensa que ecoa clássicos como Mystic River, de Clint Eastwood, e poderá ser um boa aposta para a altura do dia das bruxas.

O charme francês também não podia faltar. O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, de Jean-Pierre Jeunet, não é um filme de outono por definição, mas a sua atmosfera intimista, as ruas de Montmartre e a ternura das pequenas coisas têm muito em comum com o aconchego da estação. A melhor parte? Está de volta às salas de cinema portuguesa com uma remasterização a 4K.

Este filme de Stanley Kubrick é muitas vezes associado à estação pelas paisagens campestres pintadas em tons dourados e ocres, filmadas com uma luz crepuscular que parece saída de um quadro, mas também pela própria narrativa: as três horas nas quais acompanhamos a ascensão e queda de Redmond Barry, adaptada da obra de William Makepeace Thackeray, espelham o ciclo da estação, onde o esplendor e a abundância dão inevitavelmente lugar à melancolia e ao declínio; tal como o outono, o filme é solene e contemplativo, carregando sempre a sombra do inverno que se aproxima.

E, para fechar, um guilty pleasure: o primeiro Twilight, realizado por Catherine Hardwicke em 2008. A saga pode dividir opiniões, mas este primeiro capítulo captura como poucos a essência da estação — uma cidade pequena, Forks, rodeadas por florestas húmidas, uma atmosfera enevoada e fria, e um romance proibido a nascer na penumbra. A banda sonora, com canções que já se tornaram emblemáticas, reforça essa sensação. Basta ouvir-se as primeiras notas de “Eyes on Fire” de Blue Foundation, canção da banda sonora, para perceber que se tornou sinónimo de outono nas redes sociais.

Outros títulos possíveis para esta interminável lista:

A Couch in New York (1996), Chantal Akerman

Matilda (1996), Danny DeVito

Rasganço (2001), Raquel Freire

The Breakfast Club (1985) e Plains, Trains and Automobiles (1997), John Hughes

It’s the Great Pumpkin, Charlie Brown (1996), Bill Meléndez

The Royal Tenenbaums (2001), (e vários outros do) Wes Anderson

Mon Oncle (1975), Jacques Tati

Clue (1985), Jonathan LynnAutumn Sonata (1975), Ingmar Bergman