Variações, Tony Carreira e Beatles. Vale tudo na febre dos biopics musicais, diz Rui Pedro Tendinha.
Depois do êxito colossal de Bohemian Rhapsody, a indústria de cinema abriu a torneira sobre biopics sobre o mundo da música. O que está previsto para este e para o próximo ano é um enxame de filmes baseados em percursos de músicos e bandas. Será que estaremos perante uma moda passageira? É bem possível, mas, especialmente em Hollywood, o filão é para ser explorado até ao tutano.
Enquanto não chega a tal versão de que se fala de Bohemian Rhapsody com mais sequências, estes são alguns dos filmes que vão explorar as biografias musicais.
Rocketman, de Dexter Fletcher, com Taron Egerton
Produzido pela toda-poderosa Paramount, chega já em maio a história de Elton John, aqui filmada em tons surreais e anunciada como “uma fantasia baseada na real viagem musical de Elton John”. O filme, supostamente, tem a sua relação com o companheiro musical Bernie Taupin, o homem que dava as palavras às suas melodias, mas também a sua passagem de hetero a homossexual. Dexter Fletcher, o realizador, também responsável por Bohemian Rhapsody, já veio a público dizer que este provável blockbuster não vai fugir da verdade e não será censurado nas cenas gay.
A imprensa internacional já viu 20 minutos, e as reações são entusiásticas, salientando-se como os velhos clássicos de Elton parecem material perfeito para uma história de Hollywood.
Blinded by the Light, de Gurinder Chadha, com Viveik Karla
Bruce Springsteen também? Digamos que esta comédia musical é sobretudo uma história verdadeira dos gloriosos anos 1980, quando uma jovem inglesa de origem paquistanesa aprende a defender-se e a encontrar um lema de vida depois de conhecer a música do Boss. Se quisermos, Blinded by the Light é uma celebração da inspiração dos sons de Springsteen com direito a uma espécie de longo videoclipe emocional. A realizadora é a autora de Joga Como Beckham, que, nesse caso, utilizava a imagem de David Beckham como modelo de inspiração.
No festival de Sundance, teve uma estreia mundial, e as críticas não foram particularmente positivas…
The Dirt, de Jeff Tremaine, com Douglas Booth
Esteve para ser lançado nas salas, mas a Netflix ficou com os direitos, e já pode ser visto através da plataforma de streaming. Um filme para os fãs dos Mötley Crüe e baseado no livro de memórias de 2001, em que se contam histórias de excessos e episódios proibidos relacionados com uma banda que foi descrita pelo próprio agente como “selvagens com dinheiro”. Neil Strauss, jornalista da Rolling Stone, assina o argumento.
Quem teve sempre vergonha de abanar o capacete com este rock’n’roll comercialão tem agora duas horas de cinema para extravasar…
Stardust, de Gabriel Range, com Johnny Flynn
Atualmente em produção, esta é a história de um momento importante da vida do jovem David Bowie, precisamente a sua primeira ida aos EUA, em 1971, viagem que poderá ter marcado o imaginário do músico camaleão e o aparecimento de Ziggy Stardust.
O problema do filme é que a família e a fundação de Bowie não aprovaram o argumento, e o filme, supostamente, não terá a sua música, talvez tentando viver do aspeto “performativo”. Trata-se de um projeto que tem o seu quê de oportunista, mesmo pensando que o protagonista é Johnny Flynn, o muito celebrado ator de Besta.
David Jones, cineasta e filho de Bowie, já veio para as redes sociais duvidar da qualidade do projeto.
The Power of Love (Famous), de e com Valérie Lemercier
Quem não esteve com pruridos foi a canadiana Céline Dion, deusa de Las Vegas e artista de massas ainda bem vivinha. A senhora autorizou que se filmasse a sua história numa produção da francesa Gaumont, casa de produção que já confessou que o modelo é Bohemian Rhapsody, aqui com a tragédia de uma viuvez e relato de uma infância no Quebec, onde cresceu ao lado de 13 irmãos.
The Power of Love é para fazer chorar as pedras da calçada e só chega em 2020.
Valérie Lemercier, conhecida da comédia popularucha francesa, assina a realização e transforma-se em Dion. Diz que é fã.
Tony Carreira: Até ao Último Concerto, de Jorge Pelicano
Depois de realizar um documentário sobre a pornografia gay, Jorge Pelicano aceitou uma encomenda do próprio Tony Carreira. Mas sabe-se que Pelicano é um cineasta com um universo próprio, estética higiénica e é bem capaz de mostrar um outro Tony. O filme é um olhar sobre a vida musical de um dos maiores ídolos da canção portuguesa.
Estreia prevista para o final de julho, mesmo com os emigrantes como público-alvo.
Variações, de João Maia, com Sérgio Praia
Aquele que poderá ser o grande caso do novo cinema português. Um drama biográfico que acompanha a vida e a morte de António Variações, o músico barbeiro que mudou a face da pop nacional. Sérgio Praia é António numa visão de João Maia, que optou por colocar uma banda e o ator a interpretar as canções dos visados.
Até à data, só se conhece um trailer, que aguça o apetite para uma obra que demorou mais de uma década até estar concluída. A produção não está a apostar no prestígio dos festivais, preferindo que o filme seja primeiro visto pelo público português já a 22 de agosto.
Yesterday, de Danny Boyle, com Lily James
Depois de ser afastado da cadeira de realizador do próximo Bond, Danny Boyle pegou nos direitos das canções dos Beatles e num guião de Richard Curtis que imagina um mundo sem a música dos Fab Four. O que é que acontece? Um rapaz de origem indiana é o único que conhece as canções da maior banda do mundo e, de repente, começa a cantá-las e torna-se na maior estrela da música moderna. O filme é uma comédia musical com todas as canções famosas dos Beatles e ainda aparição de uma série de famosos, com destaque para Ed Sheeran, que a fazer de si próprio aconselha o protagonista a mudar o título de “Hey Jude”.
Cheira a sucesso instantâneo. Os Beatles, por intermédio de Julie Taymor, em Across the Universe, já tinham inspirado uma fantasia, e, por incrível que pareça, não correu bem, muito por culpa da estratégia de promoção…